quarta-feira, 7 de maio de 2008



Joaquim Almeida Lima



RECORDANDO


Fui aluno da Escola Tomás Cabreira no ano de 1944, 1945 e 1946
Penso que dei à minha escola todo o amor e carinho que ela merece.
Sou, talvez dos seus “filhos” vivos, um dos mais antigos.

Na minha (nossa) Escola aprendi muito do que sei. Aqui aprendi, principalmente, a disciplina e o amor fraterno ao próximo que julgo sempre me têm norteado ao longo da minha vida.

Mais tarde como mestre de grafias (assim se designava nesse tempo), continuei na minha escola ajudando a aprender muitos dos meus alunos e, o mais importante, aprendendo muito com eles.

Como foram maravilhosos esses anos, quer como aluno quer como mestre!
Além dos alunos de Faro, tive alunos oriundos de várias localidades do Algarve. OLHÃO, FUSETA, TAVIRA, VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO, LOULÉ, S.BRÁS DE ALPORTEL, ALBUFEIRA, etc. etc.
Como era bom voltar a rever muitos dos meus antigos alunos que ainda estão vivos!
Felizmente que tenho confraternizado com alguns.

Tive o privilégio de privar de perto com o nosso Franklin.Quando o conheci ainda ele era um catraio de calções

Fui, também, seu professor de Estenografia, na Tomás Cabreira. Ao logo dos anos, aprendi muito com esse querido amigo. Que pena a morte ser irreversível. Que pena!...

Ausente em Lisboa, na Direcção do Ensino Secundário, quando regressei a Faro, participei, durante vários anos, na feitura do nosso órgão “o Costeleta” como ele gostava que se chamasse.

Como recordo as horas, os dias e semanas que passámos na feitura do nosso jornalinho e como admirava todo o cuidado que o Franklin punha em tudo o que escrevia e as revisões que eram feitas antes das publicações. Nada podia estar menos bem: Nem uma vírgula, nem o assento ortográfico. Quantas vezes se refazia tudo de novo! Mas valia a pena. o “o Costeleta” saia sempre impecável!
Como é do conhecimento geral ele tinha uma veia poética bastante apurada. E, a prová-lo, está tudo o que ele escreveu, mas que nunca quis publicar. Quem sabe um dia os responsáveis pela Associação, com o acordo da Gisela – sua viúva - não o façam?!)
Conhecendo mais este predicado do Franklin, um dia disse-lhe: Franklin, temos que fazer um hino para a nossa Associação. Resposta: depois pensamos nisso. Ele, além de muito modesto, era um perfeccionista e não queria fazer algo, tão importante, sem ter a certeza que tudo saia na perfeição.
Mas eu, bem menos perfeccionista, era da opinião que o que interessava era transmitir a todos os Costeletas o que nos ia na alma! Com esta ideia fixa, um dia peguei no banjo (instrumento que toco há muitos anos) e compus letra e música a que pomposamente designei por Hino da Associação da Escola Tomás Cabreira. Mostrei-lhe e tive a percepção de que não achava mal de todo.
Entretanto adoeceu, foi operado, os anos foram passando e nunca mais se falou nisso.
Não sou músico nem compositor e muito menos me considero poeta.
No entanto, julgo ser da minha obrigação dar a conhecer a todos os Costeletas a letra desse hino que nunca chegou a sair mas que sempre esteve e está no meu pensamento.
Que me perdoem os poetas da nossa Associação (e há muitos e bons) esta imodesta na publicação da seguinte letra.


HINO DA ASSOCIÇÃO DOS ANTIGOS ALUNOS DA ESCOLA TOMÁS CABREIRA

I
EM TEMPOS QUE JÁ LÁ VÃO
NA CAPITAL ALGARVIA
NASCEU AQUELA QUE ENTÃO
NOS TEM DADO SABEDORIA
II
E OS FILHOS QUE ELA TEM
ESPALHADOS PELO PLANETA
TODOS HERDARAM DA MÃE (bis)
O NOME DE COSTELETA

Refrão
COSTELETAS, COSTELETAS
DESDE O ALGARVE AO MINHO
DESDE OS AÇORES À MADEIRA
ONDE HOUVER UM COSTELETA
LÁ ESTÁ A TOMÁS CABREIRA


III
MUITOS ANOS SE PASSARAM
DESDE A SUA FUNDAÇÃO
ALEGREM-SE COSTELETAS
JÁ TEMOS UMA ASSOCIAÇÃO

IV
QUE ELA DURE MUITOS ANOS
SÃO AS NOSSAS ORAÇÕES
E QUE SEMPRE SE MANTENHA (bis)
COM AS FUTURAS GERAÇÕES

Refrão
COSTELETAS, COSTELETAS
… … …
Creio ainda que nesta letra está contido algo que era o maior desejo do Franklin:
Que as novas gerações dessem continuidade à nossa Associação.
Pensem no desejo dele que, estou certo, é também o desejo de muitos de nós.


E a terminar direi numa simples quadra todo o sentimento que me vai na alma.


Querido amigo não morreste
Para quem te conheceu
Adormeceste na terra
E foste acordar no céu

E pelo Franklin:

ALABI! ALABÁ!
ALABI! BUMBA!
ESCOLA! ESCOLA! ESCOLA!
HURRÁ! HURRÁ! HURRÁ!

Joaquim de Sousa Almeida Lima




Recebido e colocado por Rogério Coelho



HISTÓRIA DE UM COSTELETA

Paixão Pudim


NAQUELE TEMPO

por Paixão PUDIM

Anos cinquenta em Faro... a “malta” estudantil frequentava a Brasileira em autêntica romaria... no prédio em frente, ao longo do dia, concentravam-se diversas beldades na papelaria e livraria ARTYS do Sr, Capela e, no 1º andar, existia uma residencial feminina, algumas nossas colegas... verdadeiras pérolas apetecíveis de contemplação. Lembro-me da graciosa Gabriela. Da escultural Odete e, outras jeitosas que nos permitiam “sonhar”... “cor–de-rosamente”... porque naquele tempo “os morangos com açúcar” de hoje eram, simplesmente, inimagináveis.

Uma bela tarde de sábado, não sei porquê, houve necessidade de “estravasar”... e um de nós alvitrou a hipótese de uma experiência que não era muito vulgar... ir a um baile fóra de portas. A Olhão não, porque o Caronho namoriscava, na altura, a Olhanense Isaura. O José Luís não lhe convinha ir a Loulé por causa da louletana Solange.

O Silvério e eu, por causa da Gabi e Fernanda, respectivamente, ... em Faro, nunca!... por conseguinte, só nos restava solicitar apoio de uma pessoa entendida para resolver estes repentinos casos... e não foi difícil encontrar o mais credível... o mais atencioso e amigo,... o espectacular senhor Napoleão, taxista, sobejamente conhecido dos estudantes “bifes e costeletas”... mais a sua “arrastadeira”... um velho citroêm que fazia as delícias da “malta” quando executava curvas apertadas no largo de S. Francisco.
Depois de várias “consultas e análises” aos programas sugeridos e, em conformidade com as nossas possibilidades financeiras, lá fomos a caminho de Sta. Bárbara de Nexe. Quando chegámos já decorria o baile e o ambiente estava convidativo para ficar.
As jovens “montanheiras”... como diria o nosso amigo Brito de Sousa “perdiam-se” com a rapaziada estudantil... por vezes, aproveitavam a nossa presença para castigar e originar cenas de ciúmes... e os namorados ou ex-namorados vingavam~se à pedrada no carro do Sr Napoleão...

E foi assim, que passados breves momentos, fomos aconselhados a abandonar o local por ameaças de retaliação de uma última vez, muito mal explicada, e que nada se relaciona connosco.
Para evitar complicações andámos mais uns quilómetros e fomos até Bordeira. Chegados ao local entrámos com “pezinhos de lã”.... o ambiente estava bom e agradável. Era uma semi-esplanada... as primeiras músicas ao som do acordeão, clarinete e bateria dava para apreciar e escolher as “moças” não comprometidas... mas, há que usar prudência adequada aos hábitos e costumes das pessoas que frequentam o local.

Assim combinámos e assim cumprimos.

Ocupámos uma mesa e ficámos a aguardar a próxima dança para avançarmos. Entretanto, um sujeito (espécie de empregado de mesa sem estilo) chegou perto de nós e perguntou-nos o que desejávamos beber. Lembro-me que olhei para os lados e vi algumas mesas com copos de vinho tinto, pirolitos e pasteis de nata. Nada daquilo nos agradava e um de nós pediu café e, logo a seguir, foi unânime a nossa escolha... – café para todos, dissemos a uma mulhersinha que chegara próximo de nós a pedido do tal sujeito... e fomos todos dançar.
Quando a dança terminou acompanhámos as “moças” ao lugar (para os mais novos, era assim que se procedia delicadamente)... e, escutámos os primeiros risos com sussurros à mistura... é que chegados à nossa mesa eis a grande surpresa que nos deixou espantados e boquiabertos... no centro da mesa, em cima de um capacho de abanar, estava uma cafeteira de esmalte, bastante usada com borras de café a transbordar, quatro tigelas maltratadas, com mossas e um cartucho de açucar com o gargalo cortado à mão... e uma colher de sopa meio encardida.
Foi uma risada geral... talvez, por isso, a tal mulhersinha um pouco acanhada aproximou-se de nós a perguntar se estava tudo bem... e se desejávamos um pouco de pão para fazer sôpas.

Foi um delírio... nunca mais esqueci esta cena. Na segunda feira quando chegámos à nossa escola as nossas “namoradinhas” sabiam tudo.

Bons tempos, belas recordações como realça muitas vezes a nossa querida e maravilhosa colega, excelente poetiza, Maria José Fraqueza.

Para ti, Zezinha, um abraço do
Paixão Pudim

Publicação de
João Brito Sousa