quarta-feira, 22 de julho de 2009

CRÓNICAS DA SEMANA (4)




O saudoso professor Franklin colocou no Jornal “o Costeleta”, quanto â sua periodicidade, “sai quando sai”. Se esta crónica não sendo semanal mas, crónicas da semana, também, quero deixar bem claro que ela “sai quando sai durante a semana”. Esta será, portanto, a segunda desta semana.
Escrevi na crónica da semana passada a minha curiosidade de tomar conhecimento das prosas e dos sonetos que aqui se publicam. Mas esqueci o pormenor, de afirmar, que também tomo conhecimento dos comentários que se arrolam sobre os textos que aqui se produzem. No meu caso, também, tomei conhecimento de alguns comentaristas se oporem ao meu pseudónimo com que assino as minhas crónicas semanais. É natural a curiosidade dos outros. No meu comentário em resposta ao do sr. J. Tavares eu afirmava não me considerar anónimo, porque, muitos escritores também o faziam. Tenho presente o pseudónimo dum grande escritor que utilizava o pseudónimo de Jôquim Borrego. Será que alguns de vós saberá, ou teria conhecimento, da identidade deste saudoso escritor? Só mais tarde se soube tratar-se do Professor Franklin Marques. E ninguém o considerava anónimo... saber esperar também é uma virtude.
Mas, deixemos as coisas como estão. Se, na semana passada, coloquei a gazetilha do “Zé da Uva” em que ele escreve que o povo, num apertão maluco se juntava para ouvir cantar o cuco... ou cuca. E já pensaram se serei ele... ou ela? O pseudónimo não identifica o sexo. Fiquem na dúvida...!
Mas falemos da nossa escola. Há duas semanas escrevia que a nossa Escola está inserida num grupo de 3 com cursos dedicados às artes, uma no Porto, outra em Lisboa e a nossa em Faro. Os cursos serão distribuídos por 3 categorias: Cursos Artísticos Especializados; Cursos Cientifico-Humanisticos e Cursos de Educação e Formação (tipo 3). Para estes cursos existem várias vertentes de que falaremos na próxima crónica.
E falemos do passado. Contemos uma história que aconteceu Naquele Tempo. Com alguns acrescentos de composição para lhe dar mais enfase.
Estávamos na década de quarenta. O “Moce”, que gostava muito de, nas férias grandes, ir para o campo apanhar os figos e as amêndoas (presume-se que o gosto seja verídico, mesmo com o beneplácito da dúvida, se pensarmos que ninguém gosta de dar o corpo ao manifesto), pensou em não perder tempo e fazer a matrícula no primeiro dia. Quanto mais depressa o fizesse mais cedo iria para o campo. E assim fez. Ainda não eram 9 horas e já ele estava encostado à porta da Escola, na rua do Município, a espera da abertura da secretaria.
Quando a porta se abriu ele foi o primeiro a entrar, porque, já tinham chegado outros com o mesmo fim. E como foi a primeira matrícula, o “Moce” ficou com o número UM.
E gozou as férias como era seu desejo, ajudando a família na apanha das amêndoas e dos figos. E â noite, porque gostava, dormia deitado sobre um monte de palha, a cuidar dos figos, dentro do “almeixar”, espalhados em cima das esteiras de cana, não fosse o diabo tece-las. (Almeixar: cerca de ramos em cujo centro se colocavam, em cima de esteiras de cana, os figos para secarem ao sol e para evitar que as galinhas entrassem para come-los – palavra de origem árabe e usada pelo povo campesino Algarvio – não a encontramos no dicionário nem na internet)
E quando acabaram as férias e começaram as aulas, poucas semanas depois, ficou sem professor da disciplina de francês. Os períodos passaram e cerca de duas semanas do final do ano lectivo aparece uma professora, de seu nome Anália, se a memória não lhe falha no respeitante aos pormenores desta história. A professora teve imediatamente a percepção de que aquela turma, de francês sabia... nicles. E ela teve uma ideia que transmitiu aos alunos e que era o seguinte: “Escolham uma lição, estudem-na, abram o livro e dobrem-no e coloquem debaixo do pé da mesa. Vão todos a exame e eu direi abram o livro numa lição qualquer e a tendência será a abertura da lição que escolheram. E eu darei uma ajuda.”
Bem, o “Moce” escolheu a lição número um e foi praticando. Mas acontece que, nos últimos dias de aulas, a professora deixou de aparecer. Souberam que a professora e o marido, que também era professor, tinham sido presos pela pide. Coisas de política. “E agora, como é que me safo?” pensou o “Moce”. Chumbo pela certa!
E o dia do exame chegou. Entrou na sala e reparou que o professor examinador era a D. Irene da Conceição Jacinto. Estou frito pensou o “Moce”. A professora Irene era muito exigente. Como era o número um, foi o primeiro a sentar-se porque o exame era oral. E diz a D. Irene olhando para os outros dois membros do juri: “Primeiro dia de exame de francês. Primeiro aluno com o número um. Então abra o livro na lição número um...”
Claro que o exame não foi dos melhores. No final do exame diz a D. Irene:
- Primeiro dia de exame de Francês; primeiro aluno a ser examinado e com o número um, e voltando-se para os outros membros do Juri “não vamos começar com um chumbo...”
Esta história, verídica ou ficção, foi-me contada pelo próprio, já lá vão sessenta anos, e conto-a porque lhe acho graça. Fiquem com o pensamento na dúvida mas... ela aconteceu..
E fico para a semana. Até lá.

Alfredo Mingau


Recebido e colocado por Rogério Coelho