INSPIRAÇÃO De Alfredo Mingau
23.00 horas.
Ligo a TV, corro todos os canais e não encontro programa que me satisfaça. Desligo o aparelho.
23.30. horasPego na esferográfica, no papel e… fico suspenso pensando no tema que possa abordar. Irrito-me!
Não consigo inspiração…!
Não me costuma suceder. Agarro na esferográfica, olho-a e penso: “odeio este objecto”. Não me dá uma ajuda… Caramba! Maldita esferográfica. Descarrego nela a minha irritação, torço-a, dobro-a, insisto com mais força… estilhaça-se. Fico suspenso; abro a gaveta da secretária e agarro noutra. “Isto nunca aconteceu. Que se passa comigo?” “Sinto necessidade de escrever e não consigo”. Saio para a rua. As horas passaram a correr.
O2.00 horas.
A noite já ia longa. Não sentia sono. A noite estava fresca, fazia uma brisa suave; sentia-se um cheiro a maresia. Peguei na chave do carro e arranquei; As ruas estavam desertas, não se via vivalma; sai da cidade sem rumo certo e arrumei o carro no estacionamento de uma discoteca. Uma música moderna, do agrado da juventude, fazia-se ouvir. A porta estava fechada, bati. O postigo abriu-se e entrevi um rosto que disse “estamos quase a fechar”, “ficarei até fechar” respondi. A porta abriu-se, entrei. O som era bastante alto, do agrado da juventude; o recinto estava cheio, dançava-se.
Encostei-me ao balcão do bar. Pedi um whisky com duas pedras de gelo. Agarrei no copo e deambulei por entre a multidão; olhando de lado dei um encontrão noutra pessoa. O copo caiu ao chão, estilhaçou-se..
- Está a dormir de pé?
- Desculpe, olhava para o lado, não a vi.
- É o que dizem todos!
- Acabei de entrar, é a primeira vez que aqui venho, e está um pouco escuro…
- Entrou?, eu estou de saída!
- Porquê, não está satisfeita? Perguntei, notando que a minha interlocutora era uma mulher jeitosa e com uma certa beleza.
- Sem companhia isto torna-se insípido.
- Estou condenado a passar pelo mesmo? Também estou só, podíamos dançar, até fechar, que acha?
- Não era má ideia mas…, tire o cavalinho da chuva se pretende avançar com outras ideias…
- Pode estar descansada, não pertenço a essa categoria.
Dançamos; a música era lenta, um slow que convidava a relaxar. Ela era boa dançarina. Dançamos até à hora de fechar. Olhámo-nos, sorrimos.
- Gostei da companhia, disse ela.
- Estou de acordo consigo, adorei, acho-a uma mulher simpática para esquecer o encontrão, meu nome é Alfredo, sou gestor de uma empresa e sou viúvo, apresentei-me...
- Muito prazer, sou Ana Maria, trabalho no turismo e, sou uma mulher divorciada.
- Em vez de virmos sozinhos, poderíamos combinar um encontro neste mesmo sítio, o que acha? Perguntei...
- Acho bem, respondeu Ana Maria, com um sorriso aberto.
E despedimo-nos, com um beijinho, depois de apontarmos o número dos telemóveis.
04.00 horas
Regressei a casa.
Faltou-me a inspiração para escrever, não me tinha acontecido. Porque não substituir a escrita pelo convívio, fazendo a vontade a quem não gosta de me ler? É fácil substituir a inspiração pela disposição…
Passem bem.
Recebido no mail da Associação e colocado por Rogério Coelho