segunda-feira, 2 de novembro de 2009

DO CORREIO








Casimiro de Brito
Rua Emb. Martins Janeira, 15-6º.Esqº. 1750-097 Lisboa Portugal

Subject: DIVULGAÇÃO: MESA REDONDA "POEMAS CRUZADOS" no Instituto Cervantes


No próximo dia 11 de Novembro, pelas 18H30, no Instituto Cervantes de Lisboa (Rua de Santa Marta, 43-F)
terá lugar uma MESA REDONDA sob o título POEMAS CRUZADOS
a propósito da apresentação de dois livros de poesia bilingues:
EN LA VIA DEL MAESTRO de CASIMIRO DE BRITO
(tradução espanhola de Montserrat Gibert, editado pela OLIFANTE),
que será apresentado pelo poeta espanhol ÁNGEL GUINDA.
TEORIAS DEL ORDEN de JOSÉ MARIA CUMBREÑO
editado pelas EDIÇÕES SEMPRE-EM-PÉ.
A apresentação será feita por Ruy Ventura, que traduziu para português o original castelhano.
Estarão também presentes os autores Casimiro de Brito e José Maria Cumbreño.
A sessão é organizada pelas Edições Sempre-em-Pé e pelo Instituto Cervantes de Lisboa.
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DIVERSOS

Para: João Brito Sousa

- Quero agradecer os teus comentários e dizer-te que estou ponderando a possibilidade de escrever a crónica sugerida. Eu percebi a provocação, perfeitamente natural e aceitável entre o mestre e o aprendiz.
Um abraço costeleta
António Palmeiro

Para: António Encarnação

- O que escreves-te, em minha opinião, reflete a realidade. Quero parabenizar-te por isso.
Na verdade, o Brasil, um país de dimensões continentais, apresenta diversas realidades.
Se me permites, gostaria, só para ajudar o entendimento, de explicar o que é um "boia fria" a que fazes referência e que provavelmente, muitos dos nossos colegas não sabem o que é.
A história que conheço é esta:
O termo "bóia fria" é muito usado para definir um trabalhador menos qualificado. Ex. : um carregador, um cortador de cana, ou qualquer outro que tenha que se deslocar, ou seja sair de casa de manhã e só regressar à noite, tendo que almoçar fora. Como é sabido o brasileiro chama de bóia à comida.
- O que é o almoço? Passa a: O que é a bóia? Hoje vou a tua casa filar.te o almoço, ou seja, hoje vou a tua casa filar-te a bóia.
Então os trabalhadores atrás referidos levavam de manhã quando saíam de casa uma marmita, já com a refeição confecionada, que obviamente quando fosse consumida estaria fria, daí o termo "boia fria".
Inicialmente os "bóias frias" eram só os cortadores de cana e os que transportavam a cana até ao engenho, no entanto a criatividade do brasileiro fez o resto.
Claro que hoje, mesmo qualquer trabalhador menos qualificado, tem meios facultados pelas empresas para aquecer as suas marmitas. Mas o nome ficou!
Quero pedir de novo desculpa mas não resisti a dar esta explicação.
Para terminar pretendo saber o motivo porque me persegues! Sul de Minas, boa opção, Caxambú melhor ainda (todo o circuito das águas é fantástico - Caxambu, São Lourenço, Lambari, Cambuquira, Poços de Caldas). Em Caxambu até a água engravida as mulheres, que o diga a Raínha. Quem conta esta história, contas tu ou conto eu?
Depois continuaste a perseguição em São José dos Campos, só não sabes onde eu morava, mas eu digo, no Jardim Satélite. Incrivel a coincidência com mais de 20 anos de diferença.
Um abraço costeleta
Antonio Palmeiro
A Propósito do Novo livro de Mário Zambujal

- Norberto Cunha

Já está nas bancas o novo livro de Mário Zambujal, «Uma Noite não são Dias», o que, por si só, constitui motivo de satisfação para a família costeleta, particularmente para as centenas de leitores fiéis que por certo o autor tem entre nós. E eu sou um deles. Não fomos companheiros de escola mas de escritório, durante cerca de três anos. E esse convívio, não obstante algum formalismo no relacionamento profissional, hierárquico, como era norma universal naquela altura, deu-me a conhecer o apreciável perfil humano do nosso «bom malandro» e proporcionou-me ainda o repetido prazer de desfrutar «em directo», na primeira fila, do seu jeito e a-propósito no contar de uma anedota; da espontaneidade e da graça do seu comentário ao acontecimento fortuito e intrigante; do fino sentido de humor (o aparte «inocente», a conotação subtil, o trocadilho…) que por vezes introduzia nas reportagens desportivas (uma novidade ao tempo e que ficou sem continuadores). Mais tarde, com a «Crónica dos Bons Malandros» a minha admiração cresceu e consolidou-se. Porém, e com bastante pena, foi em vão que fiquei aguardando, durante não sei quanto, a publicação de novas narrativas suas. É que, caso notável, com aquela «crónica», o Mário não só se revelava um maduro ficcionista, não apenas se reafirmava como prosador exímio e dotado de um estilo inimitável, mas recuperava ainda uma tradição que durante decénios estivera ausente da nossa literatura. Não porque durante todo aquele período se tivesse registado um vazio total de escrita humorística. Não. Circulavam «Os Ridículos», onde, aliás, e se a memória não me trai, ele colaborou, e o teatro de revista enchia as salas do Parque Mayer, e por aí. Mas que eu soubesse ou me lembre, contos, novelas, verdadeira literatura de humor, já não se publicava em Portugal talvez mesmo desde o admirável André Brun, falecido em 1926. Entretanto o tempo passou e, há alguns anos, final e felizmente para prazer de muitos, Zambujal regressou à ficção, e com justificado sucesso tem vindo a preencher a lacuna. Tarda, no entanto, o reconhecimento dos seus méritos de escritor por parte da imprensa especializada e dos meios académicos. È verdade que se há autores cujas obras são sempre bem acolhidas pela comunicação social, pelo público e por alguns sectores da crítica, Zambujal é um deles. Mas, em meu entender, e para além do facto de nenhum outro escritor ombrear com ele na arte que cultiva, a sua escrita é merecedora de uma análise crítica mais ambiciosa do que a contida nessas breves recensões, meras notas de apresentação e de ocasião. Posso estar errado, e se assim for, alguém que me corrija, mas nas publicações especializadas ainda não veio a lume qualquer estudo sério sobre livros do nosso ficcionista; em nenhuma universidade se terão defendido teses sobre os seus processos criativos. Poderão objectar-me alguns que ainda será cedo para tal, ou que a literatura de humor passa ao lado das grandes questões da condição humana e não aborda temas que convidem à reflexão. Por outras palavras, que é uma literatura menor. Não penso assim e creio que o problema é outro. Penso que a «desatenção» daquelas instâncias culturais não é expressão de sobranceria intelectual ou de preconceituosa indiferença, e se deve, sim, por um lado, à inexistência em ambas de um historial de ensaísmo virado para o género literário onde cabe a obra de Zambujal. Por outro, decorrerá dos problemas de ordem teórica com que se confronta o estudo desse mesmo género, problemas que remetem para saberes não inscritos no universo das letras. Vejamos: A grande arte de Mário Zambujal não se confina ao gracejo imediato e fulminante. É também, e sobretudo, a arte de inventar o cómico, o risível; de suscitar o riso e o sorriso através de uma estrutura narrativa, sequências e situações geradas no fio de um discurso claro e fluente, pontuado de surpresas, imprevistos, e donde ininterruptamente transparece a atitude bem-humorada do narrador e que contamina o leitor. Ora, é talvez esta arte de inventar o cómico a que mais refractária se mostra à inteligibilidade do respectivo processo gerativo, criativo, mais rebelde permanece à análise, identificação e conceptualização dos elementos e momentos que supostamente a integram e nela interagem. Daí que (e com pertinência maior relativamente a outras formas de criação do cómico) a escrita de humor nos apareça como um «dom», como algo que se tem (sem se saber de onde nos veio), ou, simplesmente, que se não tem. Não é de todo sem razão que de diz «não tem graça quem quer». Mas o nó do problema situa-se mais a montante. Desde logo, a percepção do cómico (seja este resultante de uma ocorrência natural, ou produção artificial) e a resposta espontânea, múltipla e muito complexa por ele provocado em nós (e por vezes, também nalguns outros primatas) e que é o riso, são ainda, ao que julgo, questões não totalmente esclarecidas pelas ciência e disciplinas humanas, não obstante os contributos da Neurologia, Psicanálise, Filosofia (H. Bergson), entre outros. O riso envolve processos cognitivos, emotivos, motores, enfim, e a arte de desencadeá-lo promana possivelmente de um processo intuitivo específico, de uma especial modalidade de inteligência criadora, que determinadas contingências da experiência e da cultura impedem que se desenvolvam em todos os homens. E assim sendo, não será surpreendente que o estudo da criação do cómico e sua manifestação na obra literária se apresente tão problemático como atrás se disse. Do mesmo passo se achará justificação para o silêncio dos meios literários mais eruditos acerca de Zambujal. Todavia, ainda assim, e torneando o problema teórico que aqui foco, na obra do nosso ficcionista não faltam dimensões a explorar, dimensões susceptíveis e merecedoras de investigação, como o recorte humano e a tipologia das suas personagens e respectivas visões do mundo em função dos ambientes sociais onde se movem; os jogos de linguagem que propulsionam a narrativa; a exploração do suspense como modulador do ritmo e vector do desfecho; etc., etc. Tivesse eu mais tempo e a formação académica indicada para tais pesquisas e, com o maior prazer, delas me ocuparia. Mas não desanimemos. Mais tarde ou mais cedo, talvez quando menos o esperarmos, o Zambujal, que há muito é lido nalgumas escolas do secundário, começará também a ser lido e estudado nas nossas universidades.