quarta-feira, 2 de junho de 2010

Do correio electrónico

RECORDANDO
O Café da Brasileira

por Alfredo Mingau

Era café, geladaria e pastelaria.
Já não existe!
Ficava onde está hoje a sapataria Bruna. Era um cruzamento da Rua João Lúcio com a Rua de Santo António. Ali perto da Pontinha.
As casas do quarteirão algumas térreas outras de 1º andar. Cerca de duas casas depois, no sentido da Estrada de Olhão, funcionava a PIDE e, logo à esquina, a mercearia do senhor Libório.
Na frente da Brasileira costumavam juntar-se grupos de “Moces” Costeletas e Bifes, junto da papelaria Artys para verem passar as moças.
Para cima, no sentido da avenida umas pequenas casas e, para o lado da pontinha, a retrosaria da D. Adozinda e a relojoaria Oliveira.
O quarteirão onde se encontrava a Brasileira foi todo demolido.
Os donos da Brasileira formavam uma sociedade composta pelos senhor Inácio e o senhor Baleizão. Os melhores gelados de Faro eram os da Brasileira, confeccionados pelo senhor Baleizão que tinha um segredo de confecção. Os principais eram de baunilha e de chocolate. A Brasileira tinha uma pequena frota de carrinhos a pedal a imitar a metade da frente de um barco, que distribuíam os gelados por toda a cidade. Eram do tipo sandes, entre duas bolachas rectangulares, e confeccionados num pequeno aparelho manual com mola e custavam 5 ou 10 tostões, meia dose ou mola abaixo.
No interior da Brasileira mesas com cadeiras e duas cabinas telefónicas; os WC ficavam no quintal.
No Verão a esplanada ocupava toda a frente do café e parte da rua Dr. João Lúcio.
A sociedade desfez-se passando a pertencer apenas ao senhor Inácio.
Quando o quarteirão foi demolido, a Brasileira funcionou num pavilhão da Praça da Liberdade.
Naquele tempo, anos 30 e 40 as mulheres e as crianças não frequentavam os cafés. Apenas a partir dos anos 50 é que começaram a aparecer acompanhadas dos maridos. E já com uma inovação das mentalidades começaram a conviver nos cafés; na Brasileira já se viam professoras e funcionárias públicas, comerciantes e outras em amena conversa. Principalmente à noite.
Os assíduos do café e que mais sobressaiam em cavaqueira aberta eram o Chico Zambujal, o Palaré, o Franklin, o Bexiga, o Matias e outras ilustres personagens em convívio e negócios.
Aqui aparecia a vender gravatas o Victor, com o mostruário a tiracolo, que dizia-se ser um “bufo” que arrecadava 50 escudos por cada informação à PIDE.
À noite, depois das aulas, o Zeca Afonso aparecia para digerir um bolo de arroz e meter dois dedos de conversa.
O Sidónio Almeida, pintor e escultor, fazia da Brasileira o local para vender os seus trabalhos de inspiração que lhe encomendavam.
A Brasileira era também local de “intervalo” depois da saída do cinema.
E também ali se brincava. Conta-se a célebre brincadeira do Sidónio, bastante surdo, se lembrou de escrever um letreiro, em grandes letras, e que foi colocar na parede da alfaiataria Coelho, da Rua de Santo António, frente à tipografia Serafim: “MORREU O TOQUIM, ENCONTRA-SE DEPOSITADO NA ADEGA NORTENHA.
O conhecido Toquim (senhor Manjua), que era analfabeto, foi avisado e que o autor da escrita se encontrava na Brasileira. Zangado e irado o Toquim aparece na Brasileira em procura do autor da sua morte. O Sidónio que o viu antes de entrar, esconde-se na casa de banho. O Toquim, não o encontrando, senta-se a uma mesa junto da saída e pediu um copo de leite enquanto esperava. O Sidónio lá conseguiu escapar-se pela porta de serviço.
Muitas brincadeiras ali aconteceram.
Era o único café onde o balcão estava sempre com bastantes copos cheios de água prontos a serem servidos. Uma maneira de saber receber.
O Café da Brasileira era frequentado pela classe média de Faro.
Inté
Apontamentos IN FARO -"RETRATOS À LA MINUTA"

COMO VAI O ENSINO?

PROFESSOR ALUNO

O Mingau está de volta com um tema que considero actual e pertinente.

Agora que o ano lectivo está a findar, entendi que seria importante “focar” alguns dos problemas que enfermam o “ensino aprendizagem”. O texto do amigo Diogo Sousa sobre o “buhyiling” foi, como que um convite para o fazer. Não sobre o Buhyiling, porque, entendo que este problema está associado a outros factores com diagnóstico e solução que me transcendem.

Assim, vejamos…

O verdadeiro professor é aquele que ajuda ao aluno a encontrar as respostas sem em nenhum momento mostrar onde essa resposta está. Deve ser criativo e capaz de ver no limão azedo a possibilidade de fazer uma limonada.

É importante saber que, dentro da sala e fora dela, o professor é alguém em quem o aluno se espelha, uma vez que este é (ou deveria ser) o seu mais concreto exemplo de sabedoria, de carácter e, por que não, de heroísmo. Exemplo disso é que toda criança um dia brinca de escolinha e todos eles sempre querem ser o professor. Quando a disputa acontece, sempre acaba nessa posição o mais velho, o maior da turma, alguém de destaque e desenvoltura. Isso não é uma forma de respeito? Por que será que eles nunca deixam esse posto para o mais bobo? Isso provoca uma série de indagações.

Será que Deveria ser assim?, mas…

A arte de ensinar é uma tarefa difícil demais para que alguém se envolva nela por comodismo, falta de facto melhor, ou porque é preciso auferir ganhos. Já ouvi alguém afirmar que o Ministério da Educação era (será que ainda é?) uma agência de emprego.

Os profissionais críticos e actuantes na área de ensino, observam que, actualmente, impera um total descaso pelo acto de leccionar e aprender. Já não há mais o respeito mútuo entre discentes e docentes; a indisciplina em sala de aula é uma constante; a dificuldade que os estudantes encontram em usar a linguagem escrita como elemento de reforço ou registo da fala, uma triste realidade; e actos de violência escolar já fazem parte do nosso dia-a-dia. Portanto, este artigo tem como objectivo mostrar alguns dos problemas que se constata no decorrer do processo ensino-aprendizagem

Se as relações humanas, embora complexas, são peças fundamentais na realização de mudanças em nível profissional e comportamental, como podemos ignorar a importância de tal interacção entre professores e alunos?

Os problemas poderão estar, ou estão, nos comportamentos, desempenhos, métodos e técnicas de vários tipos de docentes

O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca

Toda a aula, em resumo, seja qual for o objectivo a que vise, e por mais claro, preciso, restrito, que este se apresente, tem sempre uma inelutável repercussão mais ou menos ampla, no comportamento e no pensamento dos alunos. Cada aula tem um tipo de professor diferente em que o “mais com mais e menos com menos” se repelem, peça fundamental no comportamento do docente e discente e, provoca neste, um “desinteresse” escolar.

A relação estabelecida entre professor e aluno, constitui o cerne do processo pedagógico.

Cremos que uma disciplina de “Relações Humanas” para os alunos e formação no mesmo sentido para professores, poderia ajudar o desempenho nas escolas e contribuir para um eficaz relacionamento e “interesse escolar”.

Composição com alguma recolha “daqui e dali”

O amigo João Brito de Sousa perguntava, num dos seus comentários recentes, onde está o Mingau?...
Alfredo Mingau