quinta-feira, 21 de outubro de 2010

DO CORREIO ELECTRÓNICO

Outubro de 2010
Aquela mina lá no Chile

Por dá cá aquela palha,
Capaz de esfolar, matar;
Não há piedade que lhe valha,
Bárbaro mais que milenar!

Sanguinário, por vezes cruel,
Como sofrendo duma maldição;
Podia bem ser doce como o mel,
Fugindo à fúria da destruição!

Por vezes, porém, para salvar,
Vai muito além do dever,
Demonstrando o outro amar
Por ele capaz de morrer!

Então o Sol sua alma ilumina,
Tornando-se ser de perfeições mil,
Atingindo altura quase divina.
Olhai –aquela mina lá no Chile!

Inocencio da Costa

Qué es poesia?-dices mientras clavas en mi
pupila tu pupila azul?
Qué es poesia? Y tu me le preguntas?
Poesia,,,eres tú!
Bécquer
A PESCA NA RIA

Por se tornar um pouco extenso para ser aceite como comentário, preferi escrever este texto enquadrando-o na síntese dos comentários ao meu texto “Marés Vivas”.Ao Diogo já respondi. Passo, portanto, a abordar o enunciado do meu amigo Zé Moreno (José Elias Moreno) com residência em Faro na rua que fica em frente da nossa Escola, rua onde já nos temos encontrado para “dois dedos de conversa”. Faço aqui um interregno para exclamar: A intriga está feita!...
E vamos ao “miolo” do teu comentário Zé.
Sobre o “moinho de maré” da saudosa moleira Francisquinha Grelha (Moinho do Grelha), situa-se à direita de quem está virado para a ria, da então chamada Praia da Torrinha, daí o moinho ser conhecido por “Moinho da Torrinha”. Era constituído pela casa do moinho, com as duas mós de pedra sendo a de baixo fixa e a de cima rotativa para moer o grão que ia caindo no buraco central da rotativa. A mó de cima era impulsionada pela força da água que corria por baixo pela “levada”, canal que estava ligado à lagoa artificial por uma comporta. A lagoa estava ligada à ria por outra comporta que era aberta manualmente quando da baixa-mar, e fechada na preia-mar. O moinho só poderia trabalhar durante a baixa-mar, abrindo a comporta da “levada” e pôr a mó a rodar com o impulso da água. E o ciclo repetia-se.
Quanto às pescarias de que falas na ria, o amigo Encarnação já adiantou umas dicas, mas gostaria de acrescentar como elas eram feitas pela minha experiência pessoal.
A pesca dos chocos, tão saborosos fritos com tinta, fazia-se de duas maneiras; de dia com uma rede presa a três canas formando um triângulo, e a que se dá o nome de “xalrão”, pegando nas duas canas e arrastando para a frente durante um certo tempo até levantar a rede e extrair os chocos que lá se encontravam. De noite com uma lanterna (petromax) e uma fisga. Tudo isto feito na maré baixa. Com o xalrão com água pela cintura e à fisga com àgua até ao meio da perna.
Com o mesmo candeeiro, de noite durante a baixa-mar, íamos para os cabeços ou ilhotes apanhar as bocas dos caranguejos “cava terra”. Ao centro o do candeeiro e um de cada lado apanhavam os caranguejos arrancavam as bocas e largavam os caranguejos. E é interessante saber que no lugar da boca arrancada uma nova torna a nascer e a crescer. O candeeiro servia para encandear os caranguejos para não fugirem.
Recordo de apanhar peixe com a “redinha”. Uma rede de arrasto com chumbos em baixo e pequenas bóias de cortiça em cima. Não é muito comprida, entre 5 a 10 metros. Durante a baixa-mar e é arrastada nas pontas para um cabeço ou para a praia e aí retira-se o pescado, geralmente constituído por chocos, robalos, sargos, mucharras, peixe rei e camarão. Geralmente a maior quantidade é de peixe rei. Recordo que a última vez que fui a esta pesca apanhámos um choco e cerca de 5 quilos de peixe rei. E fomos apanhados pela polícia marítima. Ficámos sem a rede.
Os alcabozes, geralmente a malta chama “cabozes”. Um petisco delicioso fritinho é geralmente apanhado preferencialmente junto dos esgotos. O lingueirão, apelidado de “cabos de faca”, dá uma grande publicidade à comida Algarvia no seu “arroz de lingueirão, é normalmente apanhado de duas maneiras. Por arrasto ou com uma vareta de bico de fisga, chamada “adriça”, que se espeta no buraquinho, onde eles vivem, em forma de buraco de fechadura. Recordo que o saudoso Franklim se entretinha bastante na apanha do lingueirão com a adriça. Esta pesca é feita nos ilhotes com a baixa-mar e em seco. Também há quem o apanhe com sal grosso deitando para dentro do buraco. O sabor a sal faz com que eles saiam e…
Quanto ao “tapa esteiro” é uma pesca considerada criminosa. Trata-se de duas redes que são colocadas num canal, durante a baixa-mar, tapando os dois lados. Quando se dá a baixa-mar os peixes não têm saída acabando por ficarem em seco e morrem. Os pescadores vão retirá-los tirando apenas os maiores.
Temos, também, a conquilha apanhada na costa e a amêijoa e o berbigão na ria com a baixa-mar.
Muitas outras espécies tais como berbigão, búzios, ostras, mexilhões, burrieis (caracol do mar) camarão pequeno, caranguejos sem esquecer as enguias e irós que eram apanhadas à fisga na doca, quando a doca era um atoleiro de lodo negro, criado pelos esgotos da cidade que para ali estavam canalizados.
Era assim a pesca “desportiva” proibida. Hoje, existe muita fiscalização.
Era giro! A malta divertia-se e comia bons petiscos.

Alfredo Mingau

DO CORREIO ELECTRÓNICO

SOBRE TEXTO DE MARÉ VIVA,
COMENTÁRIOS E RESPOSTA.

O que tenho a comentar é que são mesmo muito BONS ! ! !


Acrescentando que ler factos ocorridos há mais de 55 anos e sobre os quais não se encontram registos na Net , nos traz cá uma saudade!
A Praia dos Estudantes onde morei entre os 11 e 14 anos marcou minha adolescência.
De famílias ligadas ao mar avó, Pai, Tios conhecidos pela alcunha de Gilbertos, Primos etc .
Pelo moinho do Manuel Lazara (irmão do meu avô) passava diariamente centenas de pessoas desde Pescadores, mariscadores em que a ameijoa era o destaque, o Berbigão na maioria utilizado como isco nas Merjonas, os Covos para Chocos, alcatruzes para Polvos.
Redes para a pesca nas diversas formas entre elas a sacada (pesca praticada fora da Barra).
Tapa esteiros em que colocavam as redes na maré vazia, sendo levantadas na maré cheia cercando os Peixes que geralmente entravam numa manga em local estratégico.
De Lembrar os Chenchilhas em que o velhote Manuel ao vender os Burriés, camarões, bocas etc. interpretava sempre para as meninas que pediam sua poesia em versos repentistas.

Também acompanhei a redinha (alguns metros de redes que era arrastado pelas regueiras que desciam com a corrente) com membros da família dos Palhocas .
Ainda as pessoas que vinham apanhar e comprar Murraça para alimentar os animais), cada ilhote era identificado por um nome, e na época os conhecia todos localizados desde onde fundeavam as vedetas Azevia e Bicuda até há ilha do Farol.

A D. Francisquinha Grelha mãe do José Grelha que foi Fiscal dos Serviços da Câmara de Faro era considerada uma pessoa muito culta fruto da sua inteligência.

Conheci todos os terrenos e seus proprietários em volta do local onde se fabricaram os Blocos para as obras da Barra que eram levados por Batelões e Rebocadores que os levavam.
A Jacinta era o nome da Barca que fazia as comunicações entre eles , as obras e o cais Novo.
As Hortas das Famílias Pires, dos Fredericos, do Bolas todas ao sul da Opca , posteriormente apareceu por lá a Cavan (fábrica de Postes e Manilhas) enfim tudo tem sua época.

Termino com meus Parabéns ao grande senhor da escrita que se denomina A. Mingau e todos os intervenientes que motivaram esta minha crônica.

Saudações Costeletas
António Encarnação

DO CORREIO ELECTRÓNICO

A ALEMANHA DE HOJE E DE ONTEM
Por João Brito Sousa

PEQUENAS NOTAS

A situação actual na Europa, boa ou má, não a venho discutir, depende, penso eu, dos alemães, nomeadamente do Banco Central Europeu, sediado na Alemanha.

No passado, por volta de 1820, a Alemanha já era o País dos pensadores e dos poetas , mas também um País de jovens entusiasmados pela liberdade e pela unidade nacional.

Dentre dos poetas, o grande Goethe estava sempre ocupado, majestoso na sua alta serenidade, reconhecido por todos como o maior homem no reino do espírito.

Ao lado do universalismo de Goethe aparecera o romantismo que se opunha ao racionalismo das luzes e mergulhava as suas raízes profundas num passado longínquo.

A paixão que os historiadores sentiam pela história da Alemanha e pela "alma alemã", tornava-os claramente nacionalistas.

Entre os pensadores, Hegel havia tomado a chefia do movimento: expunha perante auditórios numerosos e entusiastas o seu grande sistema filosófico que terminava por uma exaltação do poder do Estado, mais especificamente, do Estado Prussiano.

Segundo Hegel, "filósofo da corte Prussiana" o movimento das ideias obedece a uma lógica dinâmica que é a dialéctica; o movimento cria o real e leva o ser a ultrapassar o seu modo de existência.

O indivíduo não existe, portanto, em si mesmo; é transcendido pela ideia que tende a realizar-se, graças ao conceito superior do Estado monárquico, que associa a liberdade á autoridade e aparece como a encarnação terrestre de Deus.

Tudo muito bonito, mas e a crise?...


Jbritosousa@sapo.pt

Retirado da História Universal de Jorge de Macedo