segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A INOCÊNCIA DOS LOUCOS



Se não formos injustos seremos um inocente
Mas responsável perante nós e o semelhante
Inocência é a saúde da alma; alegria da mente
Mas a inocência dos loucos quem a garante ?...

O louco acredita em tudo que lhe vem á cabeça
E três quartos das loucuras são mesmo tolices
Saber onde acaba a inocência e a loucura começa
Eis a questão de saber onde colocar as burrices.

Inocência dos loucos, bom tema para estudar
Fizeste bem ó Montinho no teu texto colocar
Um assunto que teve diferentes interpretações

Uns disseram, é contra ti; outros disseram não.
E eu, não percebendo, entendi na minha razão
Ter a inocência dos loucos correctas intenções

João Brito Sousa


Obra da autoria de Rosa Trindade e Dulce Bulha e ilustrações dos alunos do curso Cientifico – Humanístico de Artes Visuais dos 11º e 12º anos da Escola Secundária de Tomás Cabreira.
QUANDO ALGUÉM PARTE
Informamos que o funeral do

José Manuel Pontes Gonçalves

se realiza 4ª feira dia 17
pelas 14h30
na Capela do cemitério de Montechoro
"Deus protege os inocentes, as crianças e os loucos, e, tomara, os poetas, para que esses possam sempre perceber e comentar tal facto"


A INOCÊNCIA DOS LOUCOS


Com exceção dos inocentes, das crianças e dos loucos, subentenda-se aqui os "bons loucos", é difícil encontrar alguém assim como ele, o meu amigo Sousa. Só não sei exatamente em qual dessas categorias ele seria inserido com mais acerto. Seria na categoria dos inocentes? Talvez, apesar de ter mais de sessenta e cinco, como todo o homem maduro, avò de dois netos. Dono dessa inocência que faz a pessoa cantar para os netos dormirem, para os netos acordarem "ligados", e na impossibilidade de poder cantar para os filhos e netos dos outros dormirem e acordarem. Ele sabe aquele tipo de paz, de quando a gente fecha a cortina e não importa se o que bate na vidraça é o vento, a chuva ou o sol? É desse tipo, a inocência da qual me refiro. Tudo está bem de qualquer jeito, porque o mundo do inocente transborda mesmo é no coração.
Falando em bater no vidro, lembrei-me de que justamente com o Sousa aconteceu o seguinte: num trânsito de cidade -- pra não dizer infernal -- lá estava ele, dirigindo, com as crianças devidamente no banco de trás, enquanto no banco do passageiro, viajava a sua carteira. Obviamente, tratando-se do avò, eles cantarolavam alguma música junto com o rádio.
Eis que no semáforo vermelho, dois motoqueiros, um de cada lado do carro, param. O do lado do motorista, bate no vidro e o Sousa olha, achando um pouco estranho aquele homem, naquele calor, com aquela roupa toda e mais o capacete fechado. Não consegue entender o que ele diz. Também, com aquele capacete e o volume da música no rádio! Ele parece agitado e abre um pouco mais o vidro, sugerindo com um gesto para ele abrir o capacete. Ele levanta a viseira, e assim o percebe realmente irritado mas não entende o que diz. Então ele comenta: - Ta um grande calor? Ele insiste, apontando para o outro lado. Ele olha e nota que o outro vidro está meio abaixado e responde sorrindo: - O vidro está aberto! Obrigada moço! E começa a fechar os vidros, percebendo nesse momento que existe mais um motoqueiro, do outro lado do carro. O sinal abre e então os dois motoqueiros saem lado a lado, conversando. O neto de apenas sete anos lhe diz: - Avô, você não percebeu que ele te queria assaltar! - Imagina filho, não era nada disso, ele estava avisando que o vidro estava aberto!
Dias depois ele sabe pelo jornal: existem duplas de motoqueiros atacando naquele semáforo. Roubando os motoristas, principalmente mulheres e pessoas idosas, das quais eles "pedem" as bolsas e carteiras.
Mas será que ele se encaixaria mais na categoria criança? Talvez, já que brinca e conta histórias para crianças como se fosse uma delas!
Por fim, seria louco este meu amigo? Talvez... porque manter a inocência nos dias atuais, só de loucos!

Montinho
(Subscrevendo o pedido de JB “Não abandonem o Blogue!)
NA RUA DIREITA
Por João Brito Sousa

Era na rua Direita na Costa da Caparica, na que vai para a praia, que, no primeiro café à esquerda, se juntavam o Dr. Ventinho e mais uns quantos, formando uma espécie de tertúlia e digo espécie, porquanto apenas o Ventinho era possuidor de uma bagagem invulgar. Os outros nem por isso. Mas sabiam ouvir, uma particularidade interessante e cada vez menos usual. E que conta muito.
Ventinho desempenhara na vila a sua profissão de médico, era muito conceituado, um homem daqueles a que se pode chamar um homem bom. Mas era sobretudo um homem da cultura, patriótico quanto baste, conhecedor dos princípios e valores por que se deve reger a sociedade, um estilo eticamente correcto, acompanhava-o sempre um sorriso, os seus bons dias dados à população transmitiam uma corrente de grande harmonia social, o que levava as pessoas a terem pelo facultativo uma grande dose de amizade.
Era ainda poeta e fazia sonetos profundos. E conseguia sonhar escrevendo os seus poemas. Sobretudo poemas de amor e com muito amor. Era, não parecendo, um apaixonado da vida, apesar de possuir um ar melancólico. E, tal como Saramago, sabia que hoje estamos e amanhã podemos não estar.
A boa relação entre o Dr. Ventinho e os pescadores, respectivos familiares ou outros, começava no consultório do médico, onde, com uma paciência infinita, se inteirava dos males da clientela, jovem ou adulta. A simpatia de Ventinho era natural, tudo espontâneo, de tal modo que quando se soube do seu falecimento, toda a vila chorou, porque tinha morrido um homem bom.
Certa vez que entrei no acima citado café, o grupo estava reunido e falava de História Universal, assunto que o Dr. Ventinho adorava abordar. Além de História, Ventinho adorava também Literatura e falava dos autores clássicos com a propósito e sabedoria Prosa ou poesia, tanto fazia, pois a vida para Ventinho era estudar. Mas isto tudo depois da Medicina, que ele exercia com uma devoção enorme, quase paixão.
Eu conhecia Ventinho desde uma vez que precisei dos seus serviços. Ficámos bons conhecidos, quase amigos e cumprimentava-o sempre, quando me cruzava com ele na rua que ia dar á praia. Ventinho, que usava chapéu, um palhinhas no Verão e um de feltro lá pelos Invernos, balbuciava bons dias ou boas tardes e levava as mãos ao alto do cocuruto, simulando tirar o chapéu. Era um cavalheiro.
Quando entrei no café cumprimentei os presentes, especialmente Ventinho,, que era o único que eu conhecia e recebi dele a respectiva contrapartida. Ia com um amigo e sentámo-nos numa mesa ao lado, e às tantas diz-me o meu amigo.
- Conheces o sujeito que está a falar?

jbritosousa@sapo.pt