quarta-feira, 17 de setembro de 2014

CANTINHO DOS MARAFADOS



O SEQUESTRO


Alzira, na visão do Silva, era uma chata! Sempre a reclamar coisas.
- Não, Silva, a toalha tem de ficar dobrada para dentro.!!
- Não, Silva, aí não, corta no lava-loiça para não fazer sujeira com as migalhas.
- Fechaste a tampa Silva?
Vinte anos de casado! Vinte anos de reclamação! Ninguém merece!!
Se pudesse, desaparecia...
Separar? Divorcio? Nem pensar!
Ė uma coisa que não dá para se livrar de ex-mulher.
Nem pensar em desembolsar pensão pra matrafona. E sabendo que a Alzira lhe tirava dinheiro da sua carteira e guardava em poupança…
- Pelo amor de Deus Silva! Olha onde deixaste os sapatos!
“Se alguma alma bondosa sequestrasse a matrafona.... Como não pensei nisso Antes? Sequestro!”
“É isso!!! Dou um susto na desgraçada, recupero o dinheiro da poupança e volto como um herói de guerra. Tratado a pão-de-ló! “
O Silva naquela noite não pregou olho planejando o próprio rapto.
Levantou-se mais cedo que o habitual e mais alegre e bem-disposto. Vestiu-se rapidamente e, enquanto a Alzira foi para o quarto de banho, colocou três cuecas e duas camisas na pasta. A negociação vai ser demorada, pensou.
Fez as abluções matinais, tomou o café, resmungou um adeus e saiu deixando a mulher a reclamar pelas migalhas de pão espalhadas na cadeira e no chão.
Na parte da tarde o telefone tocou e Alzira, que não gostava de falar        ao telefone, não atendeu. Mas o aparelho tornou a tocar e Mafalda atendeu de mau humor.
- Alô!
Do outro lado da linha uma voz roufenha:
- Sequestramos o seu marido! Era o Silva falando com o telefone enrolado com um saquinho de supermercado para não ser reconhecido.
- Quem?
- O seu marido!
- Que marido?
- O Silva!
- Sequestraram o Silva?
- Sim! E se o quer vivo queremos vinte mil euros para o libertar.
- Ele tá vivo?
- Tá! Mas se chama a polícia nós o apagamos.
- Está bem, está bem, eu pago.
O Silva sorriu e pensou convencido “ela me ama!”
- Mas eu quero uma prova de que ele está vivo!
- Quer falar com ele?
- Não! Você pode querer me enganar imitando a voz dele.
- Então como quer?
- O dedo do meio da mão esquerda do meu marido tem um sinal com pelinho, corta o dedo e manda aqui pra casa. Eu identifico e pago.
E desligou o telefone.

Um arranjo de  Roger