sábado, 11 de outubro de 2014

DIVAGANDO




I - 3 COPOS

Autor Rogério Coelho

Naquela noite não me apetecia sair. O ar estava quente. Os canais da televisão apenas emitiam telenovelas. Desliguei e liguei o rádio com o som baixo. A música era agradável. Peguei num copo e na garrafa de whisky, agarrei numa tigela e coloquei pedras de gelo. Sentei-me no sofá e deitei o líquido no copo juntamente com duas pedras de gelo.
E, enquanto me deliciava com a música, aguardei que refrescasse e emborquei de um só trago, fresquinho, soube-me bem. Tornei a repetir a dose e, quando me preparava para me deliciar com este segundo a campainha da porta tocou.
Contrafeito, não esperava ninguém, levantei o assento do sofá e abri a porta. Uma rapariga estava na minha frente com uma taça na mão e falou:
- Sou a vizinha do andar de cima. E mostrando-me a taça acrescentou “venho pedir-lhe algumas pedras de gelo”.
- Faça favor de entrar.
Peguei na taça, dirigi-me ao frigorífico e, da cuvete, retirei algumas pedras de gelo que coloquei na taça. Voltei-me e, com admiração, reparei que a rapariga estava sentada no sofá. Coloquei a taça em cima da mesinha de centro e sentei-me. Olhei para ela, peguei no copo, bebi um trago e perguntei:
- Queres uma bebida?
- Se não se importa bebo do mesmo, com uma pedra de gelo.
Preparei a bebida e entreguei-lhe. Bebeu tudo e pediu outro. Fiz-lhe a vontade.
- Como te chamas?
- O meu nome é Teresa
- O meu é…
- Eu sei, interrompeu-me, chama-se Alfredo.   
- Já tiveste 17 anos? Perguntei, enquanto tornava a encher os copos.
- Já.     
- Idade difícil, não?                                                                                                  
- Ah…Já vi pior, 17 anos é o máximo que eu já vivi. 
- Sério? Então ainda tens muito que aprender.  
- Talvez. Mas creio que sei o suficiente para a minha idade.  
- Tolices!… Eles como todas os jovens da tua idade sabem sempre o suficiente! Daí ocorrerem os mesmos erros. Ou vais-me dizer que nunca erraste?  
- Hum… Já errei… Mas não ultimamente.  
- Queres dizer que com 17 anos não se cometem erros?  
- Quero dizer que com 17 anos não cometi muitos.  
- Como queiras. Esta conversa não é produtiva.
Levantei-me, abri a porta, “ainda és muito nova e não sabes o que dizes. Adeus, Quando precisares de alguma coisa bate à porta”.  
Levantou-se do sofá, pegou na taça com o gelo já derretido, dirigiu-se para a porta, voltou-se e exclamou:  
- Obrigado pelos copos! Agora já não preciso do gelo.  
E saiu, batendo com a porta.  
Sentei-me, enchi o copo, o terceiro, mais duas pedras de gelo e, enquanto bebia ouvindo a música, quedei-me pensativo nesta juventude; “neo-juventude”!

NOTA:-Uma história de ficção. Qualquer semelhança com pessoas e factos é mera coincidência


(Continua em “Neo-Juventude”)