I - 3 COPOS
Autor Rogério Coelho
Naquela noite não me apetecia sair. O ar estava quente. Os
canais da televisão apenas emitiam telenovelas. Desliguei e liguei o rádio com
o som baixo. A música era agradável. Peguei num copo e na garrafa de whisky,
agarrei numa tigela e coloquei pedras de gelo. Sentei-me no sofá e deitei o líquido
no copo juntamente com duas pedras de gelo.
E, enquanto me deliciava com a música, aguardei que
refrescasse e emborquei de um só trago, fresquinho, soube-me bem. Tornei a
repetir a dose e, quando me preparava para me deliciar com este segundo a
campainha da porta tocou.
Contrafeito, não esperava ninguém, levantei o assento do
sofá e abri a porta. Uma rapariga estava na minha frente com uma taça na mão e falou:
- Sou a vizinha do andar de cima. E mostrando-me a taça
acrescentou “venho pedir-lhe algumas pedras de gelo”.
- Faça favor de entrar.
Peguei na taça, dirigi-me ao frigorífico e, da cuvete,
retirei algumas pedras de gelo que coloquei na taça. Voltei-me e, com admiração,
reparei que a rapariga estava sentada no sofá. Coloquei a taça em cima da
mesinha de centro e sentei-me. Olhei para ela, peguei no copo, bebi um trago e
perguntei:
- Queres uma bebida?
- Se não se importa bebo do mesmo, com uma pedra de gelo.
Preparei a bebida e entreguei-lhe. Bebeu tudo e pediu
outro. Fiz-lhe a vontade.
- Como te chamas?
- O meu nome é Teresa
- O meu é…
- Eu sei, interrompeu-me, chama-se Alfredo.
- Já tiveste
17 anos? Perguntei, enquanto tornava a encher os copos.
- Já.
- Idade
difícil, não?
- Ah…Já vi
pior, 17 anos é o máximo que eu já vivi.
- Sério? Então
ainda tens muito que aprender.
- Talvez. Mas
creio que sei o suficiente para a minha idade.
- Tolices!… Eles
como todas os jovens da tua idade sabem sempre o suficiente! Daí ocorrerem os
mesmos erros. Ou vais-me dizer que nunca erraste?
- Hum… Já
errei… Mas não ultimamente.
- Queres dizer
que com 17 anos não se cometem erros?
- Quero dizer
que com 17 anos não cometi muitos.
- Como
queiras. Esta conversa não é produtiva.
Levantei-me, abri
a porta, “ainda és muito nova e não sabes o que dizes. Adeus, Quando precisares
de alguma coisa bate à porta”.
Levantou-se do
sofá, pegou na taça com o gelo já derretido, dirigiu-se para a porta, voltou-se
e exclamou:
- Obrigado
pelos copos! Agora já não preciso do gelo.
E saiu,
batendo com a porta.
Sentei-me,
enchi o copo, o terceiro, mais duas pedras de gelo e, enquanto bebia ouvindo a
música, quedei-me pensativo nesta juventude; “neo-juventude”!
NOTA:-Uma história de ficção. Qualquer semelhança
com pessoas e factos é mera coincidência
(Continua em “Neo-Juventude”)