terça-feira, 21 de outubro de 2014

CRONICA DE FARO



Em tempo de feira
A  capital algarvia volta a ser cenário de um assinalado facto do seu calendário anual de realizações, que conhecerá os seus chamados “dias oficiais” a 20 e 21, com a festividade do “Dia da Padroeira”, Santa Iria, que lhe dá o nome.
Ao longo dos séculos, das centúrias que constituem o historial desta feira, sem dúvida na sua organização uma das mais importantes do Algarve, a “Feira de Santa Iria” tem conhecido radicais transformações, mas mantendo sempre esse denominador comum desse ambiente diferente, apelativo e memorável, que lhe é intrínseco e que constitui o “mundo feirante”.
Claro que já não o é, no universo das nossas memórias e dos nossos leitores, esse inventário de somatórios que nos faziam contar quantos dias faltavam para “ser dia de feira” e irmos em debandada para o Largo de São Francisco para viver aqueles dias, como “os melhores dias do mundo”. Dessas lembranças ressaltam os circos, que então se diziam “barracões” e cuja ida ao “maior espectáculo do mundo” era obrigatório, com os elencos, animados incluídos, a desfilar pelas ruas citadinas e passagem era ponto central, pairando-nos os nomes do Luftman, do Royal, do Cardinali e outros, como ressalta a compra obrigatória que o ano lectivo começara dias antes, das botas de atanado ou dos peros de Monchique. Não raro havia um lanche compatível com as posses da época, que então como hoje eram escassas, no Rolim, a famosa e grande casa de pasto, fronteira do Palácio Belmarço, que, tal como outras construções anexas foi derrubada para mostrar, em toda a sua beleza, aquele troço do castelo medieval.
A feira, já não a conhecemos no Largo e Rua de ao Pé da Cruz e artérias juntas, espraiava-se então pelos Largos de São Francisco, Afonso III e D. Marcelino Franco e vem-nos ainda à memória o Poço da Morte (um dos quais em bicicleta, com o famoso ciclista algarvio José Martins, Vila Real), os Robertos ou títeres (“aí Carolina da ponta da unha…”), os serrobecos e outros texteis artesanais, que o plástico então ainda não surgira com a força omnipresente que hoje tem, a castanha e a noz, a “corredoura” ou compra e venda de animais, que acontecia junto à Ermida de São Luís. Factor humano, que fortalecia a vivência familiar era a vinda à feira de parentes dos Machados e de São Brás de Alportel.
Incluída no “Ciclo de Feira Outonais do Algarve”, iniciado pelo São Miguel, em finais de Setembro, em Olhão, prossegue nos dias primeiros de Outubro em Tavira, conhecendo um dos seus momentos áureos no que a negócios concerne pela presença de milhares de espanhóis, de 10 a 12 Outubro, em Vila Real de Santo António e, após Faro, rumo em fora para Silves, Portimão e Lagos.
E recordando a frase que então se utilizava, apraz-nos dizer, neste tempo próprio: “Boas feiras!”

João Leal