segunda-feira, 5 de junho de 2017



   Um texto de LINA VEDES

BANHOS DE MAR V  (Continuação)


   Punham-se de costas na rebentação das ondas, de mãos dadas, procurando
 a possibilidade do mergulho.
As marés vivas de Setembro derrubavam-nas e enrolavam-nas. O mor­rer da onda deixava a nu uma verdadeira salada russa de pernas, braços, barrigas, rabos e mamas. Levantavam-se, guinchavam, voltavam a cair, mas não desistiam dos mergulhos. O resultado final era hilariante. Recheadas de areia, cabelos desalinhados, roupa enrolada e colada ao corpo, às vezes despidas ... pareciam croquetes prontos para a fritura!
Arrastavam-se para o areal, esgotadas de tanto esforço e sentavam-se de pernas abertas a descansar esperando os seus homens.
Desato a rir às gargalhadas sem me conter!
Aqueles homens calejados pelo trabalho árduo do campo, sempre debruçados sobre a terra, saíam da água salgada do mar correndo e sal­tando pelo areal. Descalços, sacudiam-se, salpicando tudo e todos, aga­chavam-se, entrançavam as pernas, rasteiravam-se uns aos outros e rebolavam. Jogavam às "abarcas". Mediam forças para encontrar um ven­cedor. Encontrado o mais forte, concluída a luta, ficavam irreconhecíveis cobertos de areia ... tanta ... que pareciam reais croquetes já panados.
Aqui sentada, olhando o infinito, regozijo-me de poder gritar a FELICIDADE de "abarcar" em mim, simultaneamente, o presente e o passado!

Lina Vedes 6 de Março de 2016

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