Um texto de
Manuel Inocêncio da Costa
Manuel Inocêncio da Costa
O PROFESSOR DE JAPONÊS
Continuação
CAPÍTULO III
E foi assim que Joaquim começou a exercer a sua tarefa, então como
professor de japonês. Joaquim durante os anos em que trabalhara na fábrica,
tinha estudado a língua nipónica, que já dominava muito razoavelmente.
Posteriormente depois de sair da fábrica, continuara esse estudo. Chegara até à
fazer uma viajem ao Japão, onde durante meses se inscreveu numa escola de
japonês, melhorando os conhecimentos do idioma e cultura japonesa, que muito
admirava.
Na Escola Universal
conheceu muita gente. Desde logo os professores. Havia-os de várias
nacionalidades. Anne p. e., natural de Nantes, lecionava francês, havia alguns
anos, não obstante ainda não ter trinta anos. Era muito vivaz, desembaraçada, descontraída e um pouco atiradiça. Joaquim ainda não tinha quarenta
anos; era magro, tinha cabelos pretos e uma forte compleição atlética. Anne gostava de se meter com ele, e,
muitas vezes fazia-lhe perguntas esquisitas e afirmações inesperadas. Como de
uma vez, em que num intervalo entre duas aulas, de repente, lhe perguntou:
" Joaquim, que pensa daquelas religiões, em que um homem, pode,
legalmente, ter várias mulheres?." "Joaquim respondeu que isso era um
assunto dos praticantes de tais religiões" - mas ela acrescentou
"pessoalmente acho isso muito bem". Ele não respondeu. nem comentou.
Mas, a partir daí, nunca mais foi retomado ou levantado tal assunto. E, com o
tempo, Anne conheceu a família do Joaquim, tornando-se bons amigos. Anne era
uma exímia tocadora de violino, entusiasmou as filhas dele, a aprenderem a tocar
tal instrumento, ensinando-as a tocar, de tal modo que a certa altura, na sua
casa, mais parecia que constantemente se ouviam os sons maravilhosos dum
concerto, fosse o "Mendelsohn violino in E minor, Op.64", ou "As
quatro estações" de Vivaldi.
Tudo isto tinha Joaquim guardado na sua mente.
A chuva caia agora em tempestade, e, cada vez mais forte. Estava
completamente encharcado. Andara às voltas pela cidade, durante horas, e, caso
curioso, estava agora, novamente, junto à sua casa. O cair da chuva soava-lhe
como uma música. E, fosse a chuva, fosse música, pareceu-lhe ouvir as notas dum
qualquer trecho musical de Mozart ou de Bach, para violino.
Talvez Anne e as suas filhas estivessem a tocar.
FINAL DO TEXTO